A
História não revela a data precisa em que se instalou a "fobia do contato
físico" dentro do cristianismo, já que, para começar, foi mais um processo
que uma norma. Contudo em 397, quando as festas do amor "Ágape"
pareciam estar se tornando um pouco "táteis" demais para os regentes
celibatários, o Conselho de Cartágio emitiu um decreto limitando severamente
toda demonstração de intimidade física na Igreja - que não fosse beijar o
sacerdote (Taylor, 1970:262). Antes disso, os cristãos eram famosos por seu
amor, seus abraços calorosos e saudações afetuosas. Nos últimos anos, as
congregações católicas e protestantes têm, de tempos em tempos, tentado
timidamente restaurar o contato físico entre as pessoas durante os serviços
religiosos.
Dallas
Landrum, pastor presbiteriano interino e massagista terapeuta de Baltimore,
estado de Maryland, explica por que certos cristãos são tão vagarosos em
aceitar e desfrutar de um dos prazeres universais e fundamentais da vida, o
contato físico:
Muitos cristãos conservadores têm medo dos seus
corpos e de qualquer contato físico, porque nunca encararam a sua própria
sexualidade! (Knaster,
1990:50). [2]
Christine
E. Gudorf, autora de Corpo, Sexo e Prazer: Reconstruindo as Éticas Sexuais
Cristãs, acrescenta:
O sexo
dá prazer de muitas formas diferentes. O mero contato físico dá prazer. O
contato físico de outra pessoa na nossa pele normalmente libera compostos
químicos denominados endorfinas que funcionam como anestésicos, aliviando a
dor... Na realidade, tudo indica que precisamos do prazer do toque. As crianças
a quem é negado o contato físico não prosperam. Elas não crescem, não comem nem
dormem bem. Elas não se desenvolvem normalmente intelectual e
emocionalmente...[3] Pessoas idosas que são tocadas com afeição, muitas vezes
conservam sua saúde e vivacidade por muito mais tempo e reclamam menos de dor
do que as que são privadas de contato físico. [4] O aspecto terapêutico do
contato é uma das razões para a popularidade da massagem (Gudorf, 1994:103).
Existem
muitas ópticas negativas e más interpretações com relação ao valor do contato
físico, e isso não somente entre os cristãos.
Em toda a
sociedade ocidental, pais, professores, doutores, puericultores, colegas de
trabalho e até mesmo amigos íntimos, muitas vezes se encontram numa espécie de
"retração ao contato físico". E novas barreiras à intimidade física
estão sendo levantadas diariamente: notícias assustadoras da epidemia de AIDS,
a polarização sexual da sociedade onde homens e mulheres "tomam
partido" na "guerra dos sexos" da década de noventa.
Infelizmente todos perdem - e as crianças são as que perdem mais - pois a vida
no lar se desintegra e professores, pastores e pais amorosos, calorosos e
consoladores ficam sem trabalho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário