AUTO-ESTIMULAÇÃO: PECADO OU SACRAMENTO?

       Em 1969, o Dr. William Masters contou-me sobre um levantamento entre 200 celibatários (padres católicos), cujo resultado revelou que 198 informaram terem se masturbado pelo menos uma vez durante o último ano. Quanto aos outros dois, diz o Dr. Masters: "Eu acho que eles não entenderam a pergunta!" (Sipe, 1990:139)

       O cristianismo tem chegado a muitas encruzilhadas sexuais e a moralidade da masturbação é uma com que ela se depara freqüentemente. Há séculos, existe um debate silencioso com respeito à autonomia sexual nesta área intimamente privada da vida, para se obter direitos de livre acesso aos prazeres do próprio corpo sem censura. Em toda a cristandade pode-se encontrar uma ampla margem de opiniões. Em Corpo, Sexo e Prazer (1994), Gudorf afirmou:
       Enquanto o cristianismo há muito ensina que a masturbação é algo pecaminoso, hoje muitos cristãos estão reconsiderando as bases para tal proibição... Tampouco vemos na história de Onam, em Gênesis 38, um motivo para sustentar a idéia de que ele foi castigado por desperdiçar o sêmen. Onam não morreu por desperdiçar seu sêmen no chão, mas porque, devido à sua ganância, recusou-se cumprir o desejo de Javé de gerar um filho para dar continuidade ao nome e linhagem do seu irmão. [O argumento de que] a masturbação incentiva a ipseidade, uma introspeção que aliena os indivíduos dos outros... [não é válida. As pesquisas mostram que] virtualmente todos os membros do sexo masculino se masturbam quando jovens, ainda assim virtualmente todos se voltam para o sexo a dois ao alcançar a idade adulta.[5] Níveis muito baixos de masturbação na adolescência estão ligados a baixos níveis de interesse sexual e conseqüentemente à baixa incidência de sexo com parceiros, e não são a causa de altos níveis de sexo com parceiros [6] (op.cit., 104-105).

O sexólogo David A. Schulz e o católico Dominic S. Raphael (que usa um pseudônimo, já que a masturbação para o próprio prazer ainda é oficialmente proibida pela sua Igreja) no seu artigo, "Cristo e Tiresias: Um Foco Maior na Masturbação", fizeram várias observações interessantes e descreveram o valor e as virtudes espirituais do "auto-prazer" (a masturbação):

       A sociedade ocidental como um todo não entende muito bem e tem certos preconceitos quanto à sexualidade, dos quais a questão da masturbação é um sintoma (Raphael citado em Feuerstein, 1989:215).

       Os adolescentes cristãos foram tradicionalmente traumatizados pelas ameaças de aflições pendentes que vão desde espinhas, a morte precoce ou loucura, caso persistissem com o "abuso do seu corpo". Schulz advertiu que um conflito negativo entre a Igreja e o ego acontece quando a religião assume um papel repressivo e negativo quanto ao sexo:

       Dizer a um adolescente que uma forma de prazer sexual, sobre a qual se tem um certo grau de controle, é intrinsecamente pecaminosa, é colocar a experiência imediata e positiva do prazer em conflito direto com os ensinamentos da Igreja. O indivíduo sai perdendo, seja qual for a conclusão tirada. Ou a Igreja está errada porque a experiência parece tão certa, ou a experiência deve estar errada apesar do prazer que oferece. (op.cit., 222)

       Schulz e Raphael preferem usar o termo "prazer próprio" ao invés de "masturbação", termo pejorativo usado há séculos que literalmente significa "profanar com a mão." Dominic Raphael não apenas aprovaram totalmente a masturbação, mas até defenderam que o deleite erótico pode transferir o orgasmo genital a um êxtase do corpo inteiro resultando numa melhor comunhão com Deus.

       Quanto mais aceitamos a bênção original de que nós, seres humanos, estamos vivos com o sopro de vida do próprio Deus (Gênesis 2:7), mais estaremos prontos tanto para a experiência mística como para a (auto) sexualidade original - na verdade há a possibilidade de um êxtase místico através da sexualidade original (op.cit., 223).

       Schulz defendeu que:

       O prazer próprio é uma forma genuína de liberação sexual - uma libertação do espírito humano para um envolvimento mais criativo e interessado dentro do mundo. Como tal, este é genuinamente cristão - embora ainda não reconhecido como tal. (op.cit., 238)

       Dominic Raphael acrescentou:

Porque a auto-sexualidade permanece um pivô de opressão psicológica, deve ser uma preocupação dos cristãos a quem Cristo libertou e a quem São Paulo alerta: "Estai firmes e não torneis a meter-vos debaixo do jugo da servidão." (Gálatas 5:1b). E porque a auto-sexualidade é o ponto de partida, se quisermos "conectar os genitais ao coração, para juntarmos o sexo ao amor," esta deve ser uma preocupação de toda pessoa religiosa. (op.cit., 238) (ênfase acrescentada.)


       Ambos, Schulz e Raphael, afirmaram que o dogma oficial da igreja sobre sexo manqueja muito atrás da prática na vida real. O Relatório Janus sobre o Comportamento Sexual (1993) confirmou essa análise, mostrando que 63% dos protestantes, 67% dos católicos, 75% dos judeus concordaram ou concordaram totalmente com a afirmação: "A masturbação é uma parte natural da vida e continua no casamento." Um quarto dos homens americanos e um décimo das mulheres americanas envolvidas no estudo, ou se masturbavam diariamente ou várias vezes por semana, e 53% dos homens contra 25% das mulheres começaram entre os 11 a 13 anos de idade (Janus, 1993: 243,77).

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