Nos tempos
modernos, várias passagens da Bíblia são usadas como justificativa para
condenar a "fornicação". Contudo, "pornéia", a palavra
usada na Bíblia grega, tinha na verdade muitos significados como sexo ilícito,
excessivo e devassidão, e não simplesmente sexo de costume entre casais, como
Brundage mostra:
Várias
passagens dos Evangelhos condenam pornéia. Esta palavra tinha diversos
significados. Algumas vezes pornéia significa prostituição, outras se refere ao
sexo em geral, fora do casamento.[17] É difícil ter certeza, por
exemplo, se o termo se aplicava ao ato sexual antes do casamento entre noivos,
ou se, na verdade, a qualquer tipo de relações heterossexuais não comerciais,
convencionalmente rotuladas de fornicação. Como nem o Torá nem os mestres rabínicos
contemporâneos de Jesus, proibiam o ato sexual entre parceiros não casados como
sendo uma ofensa moral, talvez pornéia se referisse principalmente ao sexo com
prostitutas, adultério e outras relações promíscuas[18] (Brundage 1987:58).
Em relação
às liberdades sexuais que foram tomadas pela Igreja primitiva, sabemos que
tiveram certos problemas com "fogo descontrolado" em determinados
locais, como é indicado pela repreensão de São Paulo aos Coríntios, onde casos
de fornicação e incesto eram bastante comuns:
Geralmente
se ouve que há entre vós fornicação, e fornicação tal, qual nem ainda entre os
gentios, como é haver quem possua a mulher de seu pai (I Coríntios 5:1).
São Paulo
receitou o casamento como solução para tais excessos:
Mas, por
causa da prostituição, cada um tenha a sua própria mulher, e cada uma tenha o
seu próprio marido (I Coríntios 7:2).
Muito do
conservadorismo de Paulo pode ser atribuído não só a sua estrita formação
farisaica, mas também ao fato de que a maior parte dos seus convertidos gregos
e asiáticos, eram procedentes de culturas onde a prostituição de homens e
mulheres no templo eram profissões nobres. E, intemperança sexual e orgias eram
um modo de vida entre os pagãos do Oriente Próximo. É por isso que muitos
estudiosos interpretam diversas referências do Novo Testamento a
"fornicadores", especificamente com o significado de
"prostitutos de templo", o que não inclui todos aqueles que se
envolvem em sexo com parceiros com quem não estão casados.
Os
pronunciamentos de Paulo em relação ao sexo, da maneira como são aplicados por
cristãos sexualmente conservadores, entram em conflito direto com o tema
central das Epístolas. Acreditamos que Jesus nos livrou das antigas leis
mosaicas e das exigências de pureza com respeito ao sexo entre homens e
mulheres adultas que o fazem de comum acordo. Porque "Cristo nos resgatou
da maldição da Lei [Mosaica]" (Gálatas 3:13), "havendo riscado
a cédula que era contra nós nas suas ordenanças [a velha Lei], a qual nos era
contrária, e a tirou do meio de nós, cravando-a na Sua cruz" (Colossenses
2:14).
De acordo
com Aquino, a masturbação era um pecado maior do que a fornicação. A morte do
filho de Judá, Onã, que "derramou sua semente" (ou seja, praticou
coitus interruptus) em vez de engravidar de boa vontade sua cunhada enviuvada,
como requeriam os costumes, é muitas vezes erradamente indicada como exemplo de
como a masturbação desagrada a Deus.
Então
disse Judá a Onã: Deita com a mulher de teu irmão e, cumprindo-lhe o dever de
cunhado, suscita descendência a teu irmão [defunto]. Onã, porém, sabia que a
descendência não seria dele; de modo que sempre que deitava com a mulher de seu
irmão, derramava o sêmen na terra para não dar descendência a seu irmão. O que
ele fazia era mau aos olhos do Senhor, pelo que também o matou (Gênesis
38:8-10).
Porém, lido
dentro do contexto, pode-se ver rapidamente que o que levou Deus a matar Onã
foi o egoísmo, a cobiça e a sua recusa sexual, negando-se a receber sexualmente
Tamar, a viúva de seu irmão, por não querer que ela tivesse filhos que
herdariam parte dos bens da família. Ao matar Onã, Deus pretendia que Tamar
fosse vingada, mas Ele também tinha outra razão para estar especialmente
interessado em que ela pudesse fazer amor: Tamar foi escolhida para ser
antepassada de Jesus. A conclusão picante foi que Tamar cumpriu o propósito de
Deus fazendo-se passar por prostituta, seduzindo Judá e levando-o assim a
cumprir o dever que Deus lhe deu (Gênesis 38:13-26).
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