REPRESSÃO SEXUAL

   Os "ágapes", ou "festas de amor", dos Cristãos primitivos, durante os três primeiros séculos eram uma ocasião em que os ricos faziam contribuições generosas para os pobres em encontros especiais realizados por diversão, para festejar e conviver. O Conselho de Cartage, no ano de 397, reprimiu e condenou solenemente estas "festas de amor". O reverendo Charles Buck descreveu a extinção deste curioso costume cristão:

   O tipo de caridade com a qual a cerimônia costumava terminar, não era mais realizada entre sexos opostos; e era expressamente proibido ter quaisquer camas ou sofás para a conveniência daqueles que quisessem comer mais à vontade. Não obstante dessas precauções, os abusos cometidos nelas se tornaram tão notórios que a sua realização (pelo menos nas igrejas) foi solenemente proibida no Conselho de Cartage, no ano 397 (Buck, 1838:16).

   Apesar de cada nova regra, restrição e precaução "religiosa", a sexualidade humana não acabou nem por um momento, apenas ficou reprimida, sofreu mutações ou se transformou muitas vezes em formas mais "aceitáveis" de expressão religiosa. Como Taylor menciona em Sex in History: "A energia sexual não pode ser reduzida nem destruída; se lhe for negada uma forma de escape, logo encontrará outra" (Taylor, 1970:300).
   Numa entrevista ao Washington Post, o reverendo Richard D. Dobbins, um psicólogo e conselheiro pastoral de Ohio, afirma que a repressão mórbida do desejo sexual facilmente leva a desvios no comportamento sexual e acrescenta:

   Enquanto que a Bíblia adota um ponto de vista são a respeito do corpo e da sexualidade, a religião institucional tem a tendência de considerar tais coisas ímpias e más. Não se ensina às crianças o que devem pensar de seus corpos. É um lado escuro e secreto de si mesmas (citada por Session Steps, 1988:3, Seção A).

   Toda esta sexualidade reprimida logo se manifestou nas práticas mais pavorosas. É uma vergonha, mas muitas destas práticas foram então elevadas ao nível de piedade e virtude cristãs: a flagelação semanal de penitentes e padres nus, auto-mutilações, castrações, fixações e obsessões sexuais - freqüentemente envolvendo Jesus ou Maria, comportamento sadomasoquista, caças a bruxas, massacres religiosos, isso para citar só alguns.
   O notável antropologista Nigel Davies comenta no seu livro The Rampant God, sobre a angústia sofrida ao longo dos séculos por cristãos que tiveram seu prazer sexual normal roubados:


   Ninguém pode jamais medir a imensidão da angústia mental infligida sobre os fiéis cristãos ao longo dos séculos, angústia essa que está além do que outras pessoas podem compreender; aceitando em suas mentes [como] verdades divinas o que cada partícula de seu corpo os impelia a ignorar, foram perseguidos para sempre pelo medo do fogo do inferno e, desse modo, até sofreram os tormentos dos malditos durante sua vida na Terra (Davies, 1984: 184).

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