APERTANDO O CINTO DE CASTIDADE

   Como foi feita pouca distinção entre a política do celibato para o clero e a vida sexual dos leigos, e como a classe celibatária controlava "as chaves do Reino," todo o sexo foi considerado perverso e somente a virgindade era boa.

   Durante os séculos IV e V, o atrativo popular de Maria aumentou grandemente, e sua [perpétua] virgindade foi amplamente aceita, oferecendo uma base ainda mais segura, nos ensinamentos da Igreja, para os seus padres e mais tarde suas freiras, aceitarem o celibato obrigatório. Mas alguns membros do clero eram casados, os quais, em teoria, permaneciam continentes (Thomas, 1986:9).

   Edificada na tradição romana de virgens vestais, a virgindade feminina sob o celibato tomou um novo rumo e os conventos se espalharam. Todas as virgens começaram a ser vistas como as "noivas de Cristo," portanto qualquer pessoa que tirasse a virgindade de uma moça cometia um crime contra o próprio Cristo. A virgindade ficou sendo vista como algo muito superior ao casamento, ao ponto de se incentivar grandemente que o marido e a mulher evitassem o sexo e procurassem permanecer "quase virgens". São Jerônimo disse: "Eu louvo o casamento e o matrimônio, mas o faço porque produzem virgens para mim" (Davies, 1984: 180). Presumimos que ele queria dizer virgens para a Igreja ou para Cristo e não literalmente para si próprio!
  Contudo, o verdadeiro "pecado" do sexo não era tanto o ato de procriação, por mais repulsivo que se considerasse que era. A principal fonte do pecado era a experiência do prazer sexual. Muitos deram passos para se certificarem de que até o sexo dentro do matrimônio se limitava à procriação e que era desfrutado o menos possível; alguns até faziam obstáculos de peles de animais com um buraco cortado no couro cru que causava muito desconforto e permitia o mínimo de contato corporal entre o casal copulador. Este objeto, e outros, supostamente reduziam a intensidade do pecado ao reduzirem a intensidade do prazer (Taylor, 1970:51). São Paulo nunca foi tão cruel assim. Ele insistiu que homem e mulher não deviam se "defraudar" um ao outro dos seus direitos sexuais, pois precisavam do corpo um do outro e pertenciam um ao outro (I Coríntios 7:4,5).

   Algumas igrejas cristãs de hoje ainda ensinam que o sexo é exclusivamente para procriação e não para prazer. Será que eles seriam tão zelosos, nos perguntamos, se soubessem que não é à Bíblia que devem agradecer por esta maneira dura de encarar os deleites sexuais, mas sim a mestres pagãos e filósofos não-cristãos como Sêneca, e Musonius Rufus, contemporâneos estóicos de Jesus, e outros? E foi Artemidorous, o grego estóico, e não os "missionários" cristãos, o primeiro a ensinar que a única posição moralmente aceitável para o ato sexual era o macho em posição superior, face a face (Francoeur: The Religious Suppression of Eros).

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