"MORALIDADE" TRADICIONAL - UM MITO?

       Os historiadores observam que, nos tempos bíblicos, o padrão conjugal prevalecente não era a monogamia, mas a poligamia. De fato, os padrões morais dos tempos bíblicos nunca foram como os grandes defensores da “moral­idade tradicional” acham que eram. O historiador Phillip Freeman na sua biografia de São Patrício, por exemplo, afirma que nos dias do cristianismo primitivo, era costume os novos convertidos serem batizados nus:

O batismo dos convertidos começava quando o assistente de Patrício pegava um pequeno caldeirão e começava a aquecer a água. Quando tudo estava pronto, homens e mulheres se despiam e entregavam as roupas para as pessoas que assistiam à cerimônia. Alguns leitores modernos podem ficar chocados em saber que Patrício batizava adultos nus, mas era uma prática comum e uma tradição que remonta aos primeiros dias da cristandade - parecia adequado que, quando um convertido ou convertida nascia de novo e recebia uma nova, ele ou ela estivesse nu ou nua, como um bebê. Uma maravilhosa ilustração da forma de batismo praticada no início do cristianismo foi a de um tanque de chumbo encontrado em Wales­by , na Inglaterra. No painel está uma mulher nua, ladeada por duas mulheres atendentes e seis homens que serviam de testemunha. Como a mulher retratada na cena britânica, os convertidos de Patrício primeiro se voltavam para o Oeste para renunciar o diabo, e então para o Leste para recitar o credo e afirmar sua fé. Então, ficavam ali, de pé, com temor, enquanto Patrício derramava sobre eles água e ungia suas testas com óleo, simbolizando a devoção a Deus. São Patrício da Irlanda. (Freeman, 2004)

       O ponto de vista bíblico em relação a relacionamentos e sexo fica evidente nas passagens que contam que o patriarca Abraão, a fim de salvar a sua vida em duas ocasiões, ofereceu a sua esposa Sara, primeiramente ao faraó (Gênesis, capítulo 12) e mais tarde ao rei Abimeleque (Gênesis, capítulo 20). Seu filho Isaque, seguindo os passos do pai, mais tarde ofereceu sua esposa Rebeca ao mesmo rei filisteu, ou pelo menos de nome semelhante (Gênesis, capítulo 26)
       Eric Fuchs é um pastor protestante suíço. Ele foi diretor do Centro de Estudos Protestantes em Genebra e agora é diretor do departamento de Ética da Faculdade de Teologia da Universidade de Genebra, na Suíça. No seu livro, Desejo Sexual e o Amor: Origens e História da Ética Cristã da Sexualidade e do Casamento, ele dedica quase noventa páginas a um capítulo intitulado "Cristianismo e sexualidade: uma história ambígua." Um dos pontos que ele apresenta é que certas condutas sexuais podem ser muito prejudiciais e ofensivas. O Antigo Testamento certamente não esconde estes perigos. Conduta sexual imprópria pode levar à violência assassina como se conta na assombrosa história de Juízes capítulos 19-21, onde os habitantes de Gibeá abusaram da concubina do levita de Efraim. Como este incidente transgredia as leis mais sagradas de hospitalidade, do heterossexualismo e do respeito até mesmo pela concubina do próximo, ele levou à violência e destruição coletiva de quase toda a tribo de Benjamim.
       Felizmente, o Antigo Testamento também contém uma abundância de lindos exemplos do uso criativo da sexualidade humana sendo maravilhosamente usada para o bem do povo de Deus. Como coloca Eric Fuchs:

       Os casais exemplares dentre os patriarcas, demonstram como a sexualidade, ordenada como uma bênção de Deus sobre a vida, cria a história e o amor. (Fuchs, 1983)


       Existe a história de Ester, que capturou o coração de um rei pagão e salvou o seu povo da destruição. Depois vemos Rute, a viúva moabita que conquistou o rico Boaz e se tornou antepassada de Jesus. E, naturalmente, existe a atordoante beleza da meia irmã e esposa de Abraão, Sara, que mais de uma vez foi usada para salvar a vida daquele honrado patriarca. Ou o amor de José por Maria, sua jovem noiva, grávida de outro, só para citar alguns exemplos.

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